18 março, 2010

There's so much world outside the door

Nunca estar a beira de um precipício fez tanto sentido. Eu estou à 10 cm de um precipício. Eu construi esse precipício, pedra sob pedra. Aqui em cima é alto, mas a paisagem que me rodeia é linda. Estou pisando exatamente em cima de tudo aquilo que ergui, e que então me sustenta. Acontece que eu não me sinto muito bem aqui do alto. Na planície começou a se formar ranhuras. É sempre bom ter discenirmento do seu chão, ou daquilo que lhe sustenta. Suas ranhuras excessivas fizeram com que a planície, apesar de erguer a si mesma, deixasse de ser tão segura. E então eu vim pra ponta. Porque agora eu já não sei mais se eu fico onde estou - estática, esperando ela desabar, ou se eu pulo. Olho pros lados e ainda consigo ter esperança, provavelmente lá em baixo haverá algo pra amortecer a a queda. E o vôo é livre.

07 março, 2010

E nos cantos escuros do céu falaremos de amor.

05 março, 2010

22 fevereiro, 2010

Respiração para empresários. Esse é o tema de curso lançado pela professora de canto Iramaya Bulgarini, em São Paulo. O objetivo é tornar os executivos mais aptos a exercer a liderança. O que uma coisa tem a ver com a outra? Para a professora, basta respirar corretamente - ou seja, utilizando a plena capacidade pulmonar com ajuda do diafragma - para que os profissionais sintam-se seguros, bem-dispostos e desenvoltos, melhorando a impostação de voz e reduzindo o estresse. A programação das aulas inclui ginástica da respiração, respiração para falar em público, regras de dicção e respiração diafragmática. O duro é respirar o poluído ar paulistano. Informações: tel. (11) 211-9057.

Fonte:
http://www.terra.com.br/cartacapital/130/maisvalia.htm

11 fevereiro, 2010

Translação I: Angústias e palavras sem nenhuma acepção

Eu preciso que o dia amanheça pra que eu possa ver o chão, e também pra que a dor de cabeça diminua com o fim dessa escuridão que passou a noite me encandeando a vista. Mais fatídico é esse silêncio rouco que sai como cuspe de boca sonâmbula e mal dormida e que meus ouvidos fizeram questão de gritá-lo por toda noite. Toco meus braços e é como se pudesse atravessá-los, aflita, abraço meu corpo com urgência procurando a pele que sobra numa vagabunda tentativa de me aquecer do frio que trouxe consigo essa chuva, que começou a cair nesse exato instante.
A chuva tarda o nascer do dia.
Talvez eu deva fechar o olho com força até ver pontinhos coloridos surgirem por todo meu campo de visão. E então eu deva ter esperanças, também, de abrir os olhos novamente e ver que o dia, enfim, possa ter nascido.

05 fevereiro, 2010

Pequeno intervalo para o peito vazio

Venho pensando no vazio e no mundo que não mais existe. Lembrando de quando almoçava toda sexta-feira na casa de vovó, pirão de peixe. E também quando pedia dinheiro a vovô pra comprar Nissin Miojo, por não aguentar mais pirão de peixe. Ganhava uma cocada de sobremesa e pedia dinheiro de novo pra comprar sacola cheia de din-din na vizinha. Da risada da minha vó, de ver meu avô na rede, e quando ouvia as expressões mas esquisitas que ele mesmo inventava. Hoje vovô nem mais aqui está, hoje vovó não fala mais. Ouvir o som de papai lavar o carro. Acordar cedo dia de domingo com as modas de viola que papai botava alto pra justamente acordar todo mundo. Amanheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar. Hoje em dia ele nem bota mais música, se botar é baixinho, o som ta quebrado também. E o carro agora só se lava no posto. Das copas do mundo, do cheiro da cerveja de verdade, de não ter idéia do que era violência, de como era ter outra visão de mundo, e com alguns centímetros a menos. Hoje eu sinto falta. Hoje eu sinto falta de muita coisa. De um tempo pra cá venho sendo tomada por um sentimento forte de saudade que é bastante vasto, e antes fosse só saudade, mas isso vem corroído por uma sensação de perda. Perda de mundo. Poucas das coisas que eu vejo hoje são como eu via antes. Sinto falta de ter minha irmã o tempo todo comigo, pedindo pra eu ir na padaria pegar salgadinhos e trufas, sinto saudade do tempo dela. Da convivência com amigos de verdade, de amigos de verdade. De passar férias em João Pessoa andando no carro de meu cunhado todos os dias com o mesmo CD de Jorge ben tocando repetidas vezes. Rosa, menina rosa, vem que eu quero ver você sambar. De de fumar um baseado e rir desesperadamente. De todas as coisas e tudo aquilo que as pessoas eram antes de terem me decepcionado. E, acima de tudo, da minha inocência de alguns anos atrás. Todas essas coisas amarram dentro do corpo e dão um nó que aperta, e aperta tudo.
Eu respiro fundo, solto. Hoje minha felicidade é barata, quase de graça. É só uma questão de força, percebo que ao invés de tá perdendo o mundo eu tô o ganhando, e com asas amarradas ao corpo e os pés no chão.

"E com o tempo essa imensa saudade que sinto, se esvai."

02 fevereiro, 2010

Minha miopia é intensa, quem dera que fosse longa  não me refiro à escala de tempo, e sim até onde ela pode chegar. As coisas, os espaços e o mundo mais nítido e tátil resultou-me mal estar, náuseas, vômito e calafrios. A visão turva nunca me trouxe danos, só imprecisão. Meu lado avesso não tem visão turva, lá são olhos de boa visão, antes tivessem e assim seria mais simples manusear os passos. A textura do desfoque é macia. É como substância líquida, homogênea, que absorve e seca, some sem seqüelas. A visão interna fere, e fere porque é feita em fortes traços, como criança nova disléxica sem cordenação motora em primeiro contato com lápis e papel. Este que não aguenta por muito tempo e rasga-se. Eis a impactante resistência da mente humana, uma puta ironia com sua estrutura física que, de um hemisfério a outro, é inerente à dor. Anestesia merecida pela predileção às práticas masoquistas deste dito órgão, que assim estoura em todos os outros, num quase desespero de evasão. E foi com espasmos que senti esse grito de piedade. Bem quando os dois lados e os dois olhos tiveram semelhante e extrema nitidez.