05 fevereiro, 2010

Pequeno intervalo para o peito vazio

Venho pensando no vazio e no mundo que não mais existe. Lembrando de quando almoçava toda sexta-feira na casa de vovó, pirão de peixe. E também quando pedia dinheiro a vovô pra comprar Nissin Miojo, por não aguentar mais pirão de peixe. Ganhava uma cocada de sobremesa e pedia dinheiro de novo pra comprar sacola cheia de din-din na vizinha. Da risada da minha vó, de ver meu avô na rede, e quando ouvia as expressões mas esquisitas que ele mesmo inventava. Hoje vovô nem mais aqui está, hoje vovó não fala mais. Ouvir o som de papai lavar o carro. Acordar cedo dia de domingo com as modas de viola que papai botava alto pra justamente acordar todo mundo. Amanheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar. Hoje em dia ele nem bota mais música, se botar é baixinho, o som ta quebrado também. E o carro agora só se lava no posto. Das copas do mundo, do cheiro da cerveja de verdade, de não ter idéia do que era violência, de como era ter outra visão de mundo, e com alguns centímetros a menos. Hoje eu sinto falta. Hoje eu sinto falta de muita coisa. De um tempo pra cá venho sendo tomada por um sentimento forte de saudade que é bastante vasto, e antes fosse só saudade, mas isso vem corroído por uma sensação de perda. Perda de mundo. Poucas das coisas que eu vejo hoje são como eu via antes. Sinto falta de ter minha irmã o tempo todo comigo, pedindo pra eu ir na padaria pegar salgadinhos e trufas, sinto saudade do tempo dela. Da convivência com amigos de verdade, de amigos de verdade. De passar férias em João Pessoa andando no carro de meu cunhado todos os dias com o mesmo CD de Jorge ben tocando repetidas vezes. Rosa, menina rosa, vem que eu quero ver você sambar. De de fumar um baseado e rir desesperadamente. De todas as coisas e tudo aquilo que as pessoas eram antes de terem me decepcionado. E, acima de tudo, da minha inocência de alguns anos atrás. Todas essas coisas amarram dentro do corpo e dão um nó que aperta, e aperta tudo.
Eu respiro fundo, solto. Hoje minha felicidade é barata, quase de graça. É só uma questão de força, percebo que ao invés de tá perdendo o mundo eu tô o ganhando, e com asas amarradas ao corpo e os pés no chão.

"E com o tempo essa imensa saudade que sinto, se esvai."

2 comentários:

aluah disse...

De todas as coisas e tudo aquilo que as pessoas eram antes de terem me decepcionado. E, acima de tudo, da minha inocência de alguns anos atrás."


coisas que vão morrendo inside.

Daros disse...

gostei tbm. ultimamente nem criatividade pra escrever comentarios eu tenho.